A pluralidade ideológica formalizada na pessoa de Sociedade sobressaltou-se sobre a caracterização física do indivíduo; doentio e simples; pérfido e laborioso. Sob seus olhos meigos e sofridos ocultava-se uma mente gananciosa, pronta para saborear as primícias da avareza. Porém, sobre os músculos robustos, havia um coração humilde que o impulsionava a abraçar um necessitado, mesmo aquele que em nada lhe devia.
Sua feição indígena tentava trair sua origem européia; em outras ocasiões, sua prepotência européia ridicularizava sua sabedoria indígena. A miscigenação de seus pais e avós causara-lhe, anos depois, um conflito de identidades. O dualismo (no caso, o poliralismo ou pluralismo) mental agravara as demais doenças internas de seu corpo. Sem a sincronia correta da governança cerebral, as células corpóreas não podiam mais atender as necessidades naturais. Logo, a doença putrefata se espalhou pelos órgãos. Sociedade gemia constantemente procurando por uma cura que somente ele mesmo poderia lhe dar.
Nesses momentos de agonia, atirado na sarjeta e danificando suas vestes, Sociedade passava a clamar pelos demais senhores e senhoras que por ele passavam, gritando por remédio ou qualquer tipo de ajuda. A presença de oportunistas, que dele trocaram pertences por conselhos falsos ou ajuda em dívidas, acarretou-lhe maior miséria. O pouco que lhe restara colocou de baixo dos braços e esbravejou sua posse. Gritava e gritava e todos o taxavam de louco, embora a segurança de seus utensílios tivesse sido um dos grandes atos em sanidade que praticara.
A doença atingira parte de seu coração e começara a corroê-lo. Dor lenta, maligna e silenciosa, martírio em agravante. Sua própria loucura o matava.
Sociedade necessitava mudar a si mesmo para sarar.
O final é sempre o arremate perfeito!
ResponderExcluirE isso me lembrou Tio Sam!
Maravilhoso!