quarta-feira, 6 de julho de 2011

Madeira conta algo

   Teve esse caso no pub. Nunca fui de frequentar este tipo de lugar, sempre dei preferência aos restaurantes e fast foods, algo mais rápido e movimentado onde eu pudesse gastar uma hora inteira conversando com uma garota e apontando características peculiares das pessoas que entravam; nada de bares caros em ambientes fechados e música quase ao mesmo nível da nossa conversa, pouca luminosidade, bandas da casa extravagantes. Mas a garota me chamou, disse que sabia de um lugar bacana, alguns cantores conhecidos passaram por lá, o ambiente era legal e eles serviam bandejas de nachos sensacionais. Não foi tão ruim, a comida era boa e a banda da noite não pôde tocar, ou seja, só tinha aquela música ambiente comum. A noite foi normal, nada que mereça ser lembrado, ou é o que dizemos quando não queremos comentar a quantidade de assuntos que pode acontecer entre um casal em um lugar público. Mas tinha um cara bêbado, quase ao ponto de cair, perto do balcão do bar, falando sozinho e muito alto. Chamou a atenção do pessoal por lá e foi só isso, logo ele saiu escorado em um amigo e partiu para sabe-se lá onde.
   Aí fiquei pensando, “o que passava na cabeça desse rapaz?”. Era um lugar caro, um ambiente de pessoas que supostamente têm algum conhecimento, apreciam música e filmes, tocam algum instrumento. Por que gastar tanto dinheiro nessa inutilidade e perder a oportunidade de ter uma conversa com alguma moça bonita ou um novo escritor? Não teria ele casa para desmaiar por lá? Eu falei para a garota que me acompanhava, “Você beberia desse jeito, digo, pra ser notada pelos outros e carregada por um conhecido pra casa?”. Certas perguntas se fazem inúteis, a gente só diz para iniciar uma discussão ou algo do tipo, não espera realmente uma resposta complexa, talvez esteja, como nesse caso, preparado para uma risada e uma negação simples e a partir de então começar a caçoar do indivíduo e relembrar casos semelhantes ocorridos com alguém. Eu nunca tinha saído com a tal moça antes, não podia saber o que ela fazia da vida e o que quer que tenha passado! Conversamos durante toda a degustação dos nachos sobre bandas de folk e rock, comentamos algo sobre literatura, mas nos concentramos mesmo em cinema e sobre as expectativas da próxima temporada de filmes hollywoodianos. Eu não sabia simplesmente nada da vida desta tal, que não convém dar, como se diz, nome aos bois, caso ela ou algum conhecido seu venha a ler esta página. Não que ela não saberá que falo dela, pois isso é impossível; obviamente ela associará o lugar e o caso a mim e isso será inevitável, mas dessa forma posso poupá-la de algum constrangimento.
   Foi uma pergunta simples, como disse; não queria uma resposta real, apenas um comentário. Ela olhou bem firme nos meus olhos, as sobrancelhas tão cravadas no rosto que pareciam que iriam se chocar acima do nariz, tornou o rosto ao chão e com a feição fechada disse de uma forma arrastada “saí da clínica de reabilitação há pouco tempo. Tenho passado esses dias todos pensando justamente se eu conseguiria aguentar ficar sem beber daquela forma novamente”.
   Não creio ser necessário acrescentar aqui que foi a última vez que saí com ela, talvez pelo rancor que ela tenha adquirido de mim; mais provável pela minha vergonha de olhar para ela novamente.

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