quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Tempestade Noturna

   A cidade adormecera. Poucas casas ainda insistiam em deixar alguma luz acesa naquela noite de domingo. Talvez pela ressaca do fim de semana, talvez pelo descanso pré-segunda-feira, talvez pelos dois; Indaiatuba permanecia em silêncio, escura e úmida.
   A torrencial chuva de verão passara deixando um rastro molhado no asfalto. As nuvens negras, embora tranqüilas sob minha cabeça, escondiam o luar e o brilho das estrelas, acentuando ainda mais a mortandade em que a cidade se encontrava.
   No horizonte, porém, Deus ainda mostrava seu poderio pela natureza. Trovões rolavam pelos céus e raios cortavam o ar. Apesar da distância ocultar seu som tenebroso, a tempestade insistia em iluminar as colinas distantes com violência.
   Brilhando incessantemente, a eletricidade apunhalava terra e céu, permitindo que este espectador distante visse, ainda que por silhuetas, como sombras projetadas por luzes repentinas, as montanhas e nuvens que ficam ocultas e uniformes no cair da noite.
   Tenebroso e magnífico era a visão da glória, científica e bíblica, pela qual as trovoadas se apresentavam.
   Amostra de poder divino ou lição de física prática, aquilo me assustara. O impasse de permanecer apreciando cenário tão majestoso ou me encolher protegido em minha cama assomou em minha mente.
   Seria realmente um teto de concreto produzido por mãos humanas capaz de me proteger do poder de uma tempestade?
   Provavelmente não, mas nada parecia mais certo que isso naquele momento: entrar em casa, encolher-me sob a coberta e fixar em minha mente de que ali nada me aconteceria. Pelo menos não depois que o sono levasse todo o temor embora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário