O local era quieto e monocolor. Algum barulho de carro provinha de uma rua próxima, mas atingia meus ouvidos com fraqueza. O banco, sem conforto algum, incomodava minhas nádegas enquanto o ar seco fazia o mesmo com minhas narinas. Era um dia quente de verão e pouca coisa parecia oferecer frescor.
Foi quando aquela bela moça apareceu, com seu andar simples e cabelo volumoso. Os cachos ondulados roçavam seus ombros a cada passo, contornando o rosto suave e protegendo seus olhos de tom verde, que se destacavam como duas estrelas solitárias em um céu profundo.
Sentou-se alguns metros ao meu lado, trazendo consigo uma aura mais úmida que vencia o calor do clima, refrescando meu corpo. Diferente com minha presença, lançou-me um olhar.
As esmeraldas verdes provocaram um efeito ainda inédito para mim; o mundo alterou-se de forma gradativa e ganhou cores novas. Sob nossos pés a grama começou a crescer, irrompendo da calçada, rachando e consumindo cada pedaço de concreto. Alcançou quinze centímetros de altura, provocando cócegas em meus pés e tornozelos. Trepadeiras saltaram do chão e se enroscaram nos muros e paredes das casas que nos rodeavam. Delas nasciam flores e frutos e toda sua extensão cobriu os tons acizentados da cidade, florescendo em verdes, rosas, amarelos, vermelhos e azuis de diversas tonalidades.
Nuvens densas, mui brancas, despontaram no céu, contrastando com o azul vívido. O sol tornara-se menos incômodo, mesmo que sua luz tenha aparentado acentuar. O dia tornou-se mais dia!
Vindo junto com toda a beleza natural, uma brisa leve roçou os cabelos da moça, dando mais vida à sua silhueta. O vento suave tocou minha face também, embora eu soubesse que isso não faria minha aparência melhorar.
Neste último pensamento me ative, com preocupação. Como a bela jovem ao meu lado poderia dar atenção a alguém como eu? O que ela veria em mim? Sou o oposto do que o mundo se tornou. A minha volta era cinzenta sendo que ela trouxe a cor. Talvez minha presença somente incomodasse o cenário perfeito que a acompanhava.
Percebi que minha preocupação se extendeu além de minha mente e enraizou na grama abaixo de mim. As plantas começaram a secar e os frutos apodreciam e caíam dos muros. A trepadeira à minha frente se contorceu e voltou a se esconder no chão. Aos poucos o concreto passou a tomar de volta lugar sobre o verde.
Entendendo que era culpa minha estar fazendo o mundo apodrecer, me levantei, ciente de que estar longe daquela moça era o melhor a fazer para permitir que ela continuasse vivendo feliz, em um ambiente confortável. Seria sensato abandoná-la em vez de deturpar a natureza somente para tentar conversar com ela. Levantei, evitando fazer movimentos bruscos para que ela não notasse, e comecei a andar na direção oposta da qual havia vindo.
Quando percorri três metros, ouvi-a me chamar. Virei vagarosamente e olhei-a. Seu semblante estava triste, sua larga boca enclinava para baixo, seus olhos possuíam um brilho diferente, lacrimoso. Perguntei, timidamente, o que havia. Sua voz, de tom agudo mas baixo volume, respondeu-me:
- Não vá! Foi somente quando cheguei ao seu lado que o mundo transformou-se em belo! Veja só o que você está fazendo ao me deixar, destruindo tudo o que de bom aqui nasceu!
Meu peito se encheu de forma incontrolável. Senti que minha feição esticou um sorriso involuntário. Não pensava mais no cenário, só sabia olhar seus olhos e desejar que sorrisse novamente. Sem que eu pedisse, o mundo voltou a florir novamente. Junto a ela, sentamos novamente no banco.
Percebi, somente então, que não era o mundo que mudava, e sim nós, quando estávamos juntos.
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