sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O Oitavo Filho - Parte 1

   A descoberta da gravidez do primeiro filho de um casal tem como conseqüências euforia e planejamentos. A novidade da concepção de uma criança, fruto de um amor puro e singelo, geralmente traz alegria regada a choro; de felicidade, obviamente.
   Com Onofre e Maria não foi exceção. Habitantes de uma cidade minúscula, intocada pela industrialização, fundamentada principalmente no plantio de vegetais, os dois estavam em matrimônio há pouco mais de dois anos; não tardaram na geração do primeiro rebento, como era costume no século passado.
   Felizes, compartilharam a novidade com todos os vizinhos e familiares. Eram muito queridos entre todos e em poucos dias sua casa já estava empilhada de presentes infantis.
   A criança veio após Onofre trabalhar incessantemente no arado, à procura de condições seguras para sua família. Sem as bênçãos da tecnologia médica moderna, o casal só descobriu no momento do nascimento o sexo do bebê. E que linda menininha ela era! Não por ser filha deles, mas Maria tinha certeza que era a criança mais linda que já vira.
   Os dias que se seguiram foram longos e as noites mais ainda. Trabalhosa era aquela novidade, mas gratificante o labor dos cuidados maternais. E paternais também. Onofre ajudava sempre que estava em casa e mesmo de madrugada.
   E a criança cresceu feliz e saudável, uma linda mocinha invejada por todos. Mas sua realeza ímpar duraria pouco.
   Após completar dois anos, a menininha recebeu a notícia dos pais, ainda não compreendendo muito bem aquilo: ganharia um irmão, um companheiro de travessuras! Mal a primeira filha podia falar que outra já estava de malas prontas.
   E veio a segunda filha. Sim, mais um garota! Onofre duplicou o trabalho na terra. Criança única já é despesa. Com um par, quão mais!
   Passaram-se, então, três ciclos. A primogênita completava cinco anos, falante e mimada, linda de nascença, acompanhada pela irmã mais nova, igualmente linda, mas pouco menos serelepe. E nova notícia aguardava Onofre ao chegar do serviço: pela terceira vez a mulher estava grávida.
   Ora, bem sabemos que poucos empecilhos haviam para a gravidez naquela época. Não me demorarei, no entanto, para descrever as próximas cinco ocasiões de gestação seguintes. Intercaladas de um a três anos de diferença, sete filhas vieram ao mundo através de Maria. Sete lindas moças, saudáveis e expertas.
   Enquanto a última nascia, a primeira já se engraçava com os mocinhos da cidade. Onofre, agora já senhor, enfrentava dois problemas distintos: afastar os rapazes apaixonados que faziam serenata ao cair da noite no portão de sua casa e acudir a recém-nascida nas madrugadas. O primeiro o aborrecia. O segundo também.

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